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Disputa tensiona o porto de Rio Grande

Briga pela exclusividade no transporte de contêineres coloca sindicato em choque com empresas de carga.

O medo voltou a viajar na boleia dos caminhoneiros que levam e trazem cargas do Porto de Rio Grande. O incêndio criminoso de um caminhão caçamba e as movimentações nos bastidores sinalizam que foi reativada uma rixa iniciada nos começou dos anos 2000 e sem prazo para terminar.

O Sindicato dos Transportadores Autônomos de Bens de Rio Grande (Sindicam) e as empresas da orla portuária disputam a exclusividade no transporte de contêineres. Ocorreram greves violentas, em que o uso de armas, agressões e danos a veículos estão documentados em ocorrências policiais nas delegacias da região.

O reaquecimento da economia global, que aumentou a circulação de contêineres, reacendeu a disputa. As hostilidades recomeçaram no mês passado. E o campo de batalha está demarcado, avisou o presidente do Sindicam, Paulo Ricardo Quaresma.

Há dois tipos de movimentação de contêineres. Na orla portuária circulam 19 mil deles por mês, o que representa em torno de R$ 1,1 milhão em frete. O Sindicam venceu a disputa por esse serviço e hoje tem exclusividade no transporte.

O outro movimento ocorre entre o porto e os depósitos de mercadorias que ficam em outras cidades, para onde são transportados 533 contêineres diários de segunda a sexta-feira, num faturamento mensal de R$ 24 milhões em frete. Os adversários do Sindicam, os chamados empresários da orla, são divididos em armadores (proprietários dos navios e dos contêineres), empresas de transporte (donas dos caminhões), terminais retroportuários (que consertam contêineres) e Tecon Rio Grande S.A. (administra a entrada e saída de contêineres).

Centenas de casos de polícia

Os empresários e seus executivos só falam sobre a disputa com o Sindicam sob a condição de que seus nomes sejam preservados. Dizem temer represálias. Há três semanas, os empresários procuraram o delegado João Manoel Vieira Filho, chefe da Polícia Federal (PF) em Rio Grande. Relataram que estariam sendo vítimas de coação por parte do sindicato. O delegado ouviu atentamente os relatos e, no final do encontro, perguntou ao grupo:

Quem vai oficializar a queixa contra o Sindicam?

Ninguém se prontificou a assumir oficialmente as reclamações. Dias depois, o delegado mandou um recado às duas partes envolvidas na disputa. A orla portuária não é uma terra sem lei. A PF acompanha a disputa.

A delegada Ligia Furlanetto, da 1ª Delegacia da Polícia Civil (1ª DP) de Rio Grande, que apura o incêndio no caminhão em outubro, passou por experiência semelhante. Até o caso chegar a sua mesa, o dono do veículo, que pediu para não ser identificado, apontava um culpado pelo fogo, membro do sindicato. A direção do Sindicam, no entanto, dizia que empresários do setor de transporte haviam armado toda a história.

Na hora do depoimento, ninguém sabia de nada. Apenas relataram histórias que falaram que ouviram. Assim fica difícil encontrar o autor afirma a delegada Ligia.

Ao longo dos anos, essa tem sido a marca registrada da disputa. Centenas de ocorrências policiais de agressão, prejuízos ao patrimônio e medidas judiciais que garantem o direito de ir e vir acabam se tornando apenas uma pilha de papéis porque as duas partes envolvidas não demonstram interesse em esclarecer o caso. No final, quem paga a conta são as empresas seguradoras que precisam indenizar danos aos caminhões e a outros bens.

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